Kenneth Trachtenberg, o narrador de Morrem mais de Mágoa, é um especialista em literature russa que abandna Paris, a sua cidade natal, par air ao encontro do tio, Benn Crader, um botânico famoso. As muitas facetas da relação entre estas duas personagens inquietantes, irrequietas e excêntricas — ambas procurando no erotismo e num amor calmo, diverso das convulsões sexuais do século XX, resposta para a insatisfação que os persegue — são o pretexto de uma narrativa cheia de humor e inteligência e sabedoria.
Por que será que, quando surgem os problemas, as pessoas procuram em primeiro lugar o remédio sexual? Por que será que as pessoas inteligentes e dotadas se encontram invariavelmente atoladas numa miserável vida particular? Por que será que os sobredotados, os intuitivos, os que são capazes de ler no livro dos mistérios da Natureza, hão-de ser tão incautos e tolos?
Morrem Mais de Mágoa tem o humor ágil da farsa francesa, mas são inseparáveis do seu enredo tragicómico as análises engenhosas do autor sobre a vida moderna e o dilema de dois homens, cujos espíritos brilhantes não os salvam dos erros que todos nós conhecemos.
Saul Bellow (1915-2004), Prémio Nobel da Literatura em 1976, é um dos mais reputados escritores norte-americanos. Inúmeras vezes premiado (recebeu o Pulitzer em 1975 pelo seuHumboldt's Gift, entre vários outros galardões), foi também crítico literário do The New York Times Book Review, professor universitário em Princeton e correspendente de guerra durante o conflicto israelo-árabe de 1967.
Filho de judeus russos que emigraram para o Canadá onde nasceu, Saul Bellow cresceu em Chicago e naturalizou-se americano, mas as suas raízes serão sempre uma constante na sua obra, que influenciou toda uma geração de intelectuais e escritores como Philip Roth, também ele judeu americano, também ele há vários anos candidato ao Nobel.
Com a sua escrita, Bellow recria com mestria a sociedade americana saída da Grande Depressão e do pós-guerra, onde a crescente influência de uma elite judia e intelectual se confronta diarimente com o materialismo arrogante e o relativismo ético vingente. Herzog, um dos seus mais brilhantes romances, é um retrato magistral desse período.
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