Bem vindos

Já há imenso tempo que ando para criar este blog, umas vezes por falta de tempo outras por falta de paciência... mas pronto finalmente aqui está ele... espero que gostem das viagens que lhes ofereço... só necessitam de um cadeirão e algum tempo...

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

O Livro negro de Lawrence Durrell





Lawrence George Durrell (Jalandhar, 27 de Fevereiro de 1912 - Sommières, 7 de Novembro de 1990) foi um romancista, poeta e dramaturgo britânico nascido na Índia.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Morrem mais de mágoa




Kenneth Trachtenberg, o narrador de Morrem mais de Mágoa, é um especialista em literature russa que abandna Paris, a sua cidade natal, par air ao encontro do tio, Benn Crader, um botânico famoso. As muitas facetas da relação entre estas duas personagens inquietantes, irrequietas e excêntricas — ambas procurando no erotismo e num amor calmo, diverso das convulsões sexuais do século XX, resposta para a insatisfação que os persegue — são o pretexto de uma narrativa cheia de humor e inteligência e sabedoria.
Por que será que, quando surgem os problemas, as pessoas procuram em primeiro lugar o remédio sexual? Por que será que as pessoas inteligentes e dotadas se encontram invariavelmente atoladas numa miserável vida particular? Por que será que os sobredotados, os intuitivos, os que são capazes de ler no livro dos mistérios da Natureza, hão-de ser tão incautos e tolos?
Morrem Mais de Mágoa tem o humor ágil da farsa francesa, mas são inseparáveis do seu enredo tragicómico as análises engenhosas do autor sobre a vida moderna e o dilema de dois homens, cujos espíritos brilhantes não os salvam dos erros que todos nós conhecemos.



Saul Bellow (1915-2004), Prémio Nobel da Literatura em 1976, é um dos mais reputados escritores norte-americanos.  Inúmeras vezes premiado (recebeu o Pulitzer em 1975 pelo seuHumboldt's Gift, entre vários outros galardões), foi também  crítico literário do The New York Times Book Review, professor universitário em Princeton e correspendente de guerra durante o conflicto israelo-árabe de 1967.

Filho de judeus russos que emigraram para o Canadá onde nasceu, Saul Bellow cresceu em Chicago e naturalizou-se americano, mas as suas raízes serão sempre uma constante na sua obra, que influenciou toda uma geração de intelectuais e escritores como Philip Roth, também ele judeu americano, também ele há vários anos candidato ao Nobel.

Com a sua escrita, Bellow recria com mestria a sociedade americana saída da Grande Depressão e do pós-guerra, onde a crescente influência de uma elite judia e intelectual se confronta diarimente com o materialismo arrogante e o relativismo ético vingente. Herzog, um dos seus mais brilhantes romances, é um retrato magistral desse período.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Entardecer em Bizâncio



Na pacífica região mediterrânica de Cannes, quando a Primavera mais reverdeja as palmeiras marginais, floresce os canteiros policromados e odorosos, embalando os homens numa tépida atmosfera poética, celebra-se o “Grande Festival do Cinema”. Irwin Shaw escolheu este cenário e momento de euforia artística internacional, para desenvolver um tema profundamente dramático e humano, em que os homens, sob a máscara momentânea do triunfo efémero e de uma felicidade fictícia, mergulham num inferno psíquico.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Lucy Crown


Mais uma vez por maus motivos tenho-me dedicado à leitura, e este é mais um dos livros que já comprei há mais de 10 anos e que ainda não tinha lido, em tempos de crise e sem poder fazer nada há que ir às prateleiras cá de casa e ver o que ainda não foi lido.

Lucy Crown é um romance de Irwin Shaw publicado pela primeira vez em 1956. Trata-se de uma esposa e mãe do personagem de mesmo nome, que, no verão de 1937, começa um caso com um jovem a quem os Crown tinham contratado como um companheiro para o seu frágil filho Tony.
O Acto de Lucy Crown de infidelidade e traição, que é testemunhado por Tony, leva à desintegração do seu casamento e afastamento completo do seu filho.  encontrou uma chance com Tony em um bar em Paris, na França em 1950 que leva a uma reconciliação parcial de mãe e filho. Lucy descobre que Tony é casado, com um filho e realmente vive em Paris como um artista. Ela imediatamente  através de sua fachada e percebe que, mantendo as aparências, ele está levando uma vida infeliz. Juntos, eles visitam o túmulo de seu pai na pequena aldeia francesa onde ele foi baleado por um franco-atirador durante a Segunda Guerra Mundial.


"Irwin Shaw (Nova York, 27 de fevereiro de 1913  Davos, Suíça, 16 de maio de 1984) foi escritor, dramaturgo e roteirista norte-americano."

Também foi autor do livro "Pobre Homem Rico", lançado em 1976 e adaptado para uma série de TV da ABC.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

A Truta




Roger Vailland nasceu a 16 de Outubro de 1907.

Apareceu recentemente uma nova tradução ( Livros do Brasil ) do seu 1º romance, Drôle de Jeu. Agora como " Jogo Curioso". Não gosto. Para mim será sempre "Cabra Cega", da primeira tradução de Hélder Macedo, em 1959, numa edição da já desaparecida Ulisseia.

Como romancista não foi um autor prolífico. Publicou 11 romances. Curiosamente oito encontram-se traduzidos em português :

1937 : " Un homme du peuple sous la révolution" em colaboração com Raymond Manevy. Publicado como folhetim no jornal da CGT, "Le Peuple". Editado pela Corrêa em 1947 e pela Gallimard em 1979. Há uma edição portuguesa da Fronteira, de 1976, "Um Homem do Povo na Revolução".
1945 : "Drôle de Jeu", Prémio Interallié, da Corrêa. Várias traduções para português desde a já referida "Cabra Cega" da Ulisseia em 1959. E depois, com o mesmo titulo, pela Europa América e Circulo de Leitores. E agora pela Livros do Brasil com o titulo " Jogo Curioso".
1948 : "Les Mauvais Coups" da Le Sagitaire e em 1989 pela Grasset. Há uma edição portuguesa da Ulisseia, de 1961, "Roda da Fortuna" com tradução de Augusto Abelaira.
1950 : "Bon pied, bon oeil" da Corrêa e em 1989 pela Grasset. Livro que é a "continuação" de "Drôle de Jeu". Este termina em Junho de 1943. "Bon pied , bon oeil" começa num domingo de Março de 1948. Ficamos a saber, logo no inicío, que Marat ( François Lamballe ) foi gravemente ferido em 1945, como correspondente de guerra, na travessia do Reno. Agora tem 43 anos e"est revenu à la vie civile, acheta un beau domaine, sur le plateau de l'Aubrac, aux confins du Cantal et de la Lozère. Cést là qu'il vit aujourd'hui, dans une solitude qui étonne tous ses amis. Il dirige lui-même l'exploitation de son bien, qui comporte un important élevage de bovidés et une fabrique de fromages." ( pág 10 da edição da "Livre de Poche", nº 1387 )
1951 : "Un jeune homme seul " da Corrêa e em 1989 pela Grasset. Há uma edição portuguesa da Minerva de 1972, "Um homem só".
1954 : "Beau Masque" da Gallimard.
1955 : "325000 francs" da Corrêa.
1957 : "La Loi ", Prémio Goncourt, editado pela Gallimard. Há uma edição portuguesa daEuropa- América, de 1975, " A Lei", nº 101 da colecção Livros de Bolso.
1960 : "La Fête " da Gallimard. Há uma edição portuguesa da Livros do Brasil, de ???? ( o ano não é referido no livro que tenho ), "Fim de Semana", nº 68 da colecção "Dois Mundos".
1964 : "La Truite" da Gallimard. Há uma edição portuguesa da Livros do Brasil, de ???? ( o ano não é referido no livro que tenho ), " A Truta", nº 95 da colecção "Dois Mundos".
1986 : "La Visirova" pela Messidor. Trata-se do primeiro romance de Vailland que apareceu em 1933, sob a forma de folhetim no "Paris-Soir" e é reeditado em 1986 pela Messidor. há uma edição portuguesa da Dom Quixote, de 1987, "A Visirova", nº 12 da "Biblioteca de Bolso".

Publicou igualmente diversos ensaios , peças teatro/ cinema e ainda livros de viagem/ reportagem. Em português foram publicados :
- "Experiência do Drama " ( "Experience du Drame", de 1953 ) , em 1962, pela Presença.
- "Esboço para um retrato do verdadeiro libertino" ( "Esquisses pour un portrait du vrai libertin", de 1946 ) , em 1976, pela &etc.
- " Borobudur. Viagem a Bali, Java e outras ilhas" ( " Boroboudour, voyage à Bali, Java et autresiles" , de 1951 ), em 1961, pela Prelo.
- "Escritos Íntimos" ( "Écrits intimes", editado em 1968, já depois da sua morte ), pela EuropaAmérica, em dois volumes, os nº 208 e 209 da colecção "Estudos e documentos" que infelizmente não mencionam o ano da edição, que penso ser de 1985.

sábado, 17 de setembro de 2011

O doutor Jivago




Eu sei que o livro tem mais de 40 anos, mas ainda não tinha tido coragem para o ler, e foi desta, nas férias o coitado fartou-se de ir à praia....

"O contexto histórico de O Doutor Jivago incide nas transformações sociais ocorridas logo após a Rvolução de Outubro de 1917 a qual culmina com a execução da família Romanov e a instauração do Regime Soviético, em vigor durante mais de 70 anos.

O romance valeu o Prémio Nobel ao Autor em 1958. Foi, no entanto, impedido de o receber pelas autoridades estatais da União Soviética que não permitiram a sua deslocação a Estocolmo para o efeito. Só em 1987 Pasternak será reabilitado por Gorbachov, dentro do movimento da 
pereströika e a sua obra finalmente divulgada dentro do território da URSS.
O Doutor Jivago é, em muitos aspectos, revestido de carácter autobiográfico, uma vez que o protagonista do romance – um médico-escritor-pensador-poeta que coloca a nu as contradições do regime ao utilizar uma linguagem objectiva, na maior parte das vezes de pendor jornalístico, ou sob o formato de crónica, sempre sem recorrer a juízos de valor – vê-se, subitamente, privado de uma colocação estável, devido aos seus escritos e à livre expressão do Pensamento. Jivago é um homem fortemente ligado à realidade do quotidiano e, ao descrevê-la objectivamente, torna-se perigoso para os homens de ideias abstractas, por colocar em evidência o enorme abismo entre utopia e realidade.
A linha de desenvolvimento do o romance explora, através de quadros que ilustram cenas do quotidiano de todas as classes sociais que compõem a pirâmide social russa da época, através de uma análise fria e da utilização de uma linguagem de carácter informativo-jornalistica para descrever os factos históricos. Em ambas as situações, o narrador actua como um observador, um fotógrafo ou um camaraman, o qual manobra a sua objectiva para captar cenas individuais, envolvendo cidadãos anónimos mas inseridas num quadro de mudança estrutural a todos os níveis: económico, social e cultural.
Um olhar nem sempre conveniente para os órgãos difusores da propaganda comunista. Pasternak empenhou-se em mostrar como a dissecação das contradições decorrentes de uma total destruição da superestrutura político-jurídica e da interacção dos agentes económicos se traduziu num caos e desagregação económica e de uma situação de empobrecimento generalizado onde se junta a falta de bem consumíveis mais básicos.

A tomada de consciência colectiva desta desorganização iria colocar o novo governo numa situação embaraçosa que o desacreditaria sendo, desta forma, compreensível a necessidade de colocar uma obra deste género na sombra.

As transformações ocorridas no quotidiano das gentes da velha Rússia são-nos mostradas em O Doutor Jivago através da análise transversal da sociedade da época – finais da primeira Grande Guerra do século XX e interregno entre as duas Grandes Guerras, até ao final da Segunda Guerra Mundial.

A mudança mais notória é o desaparecimento de uma burguesia progressista e empreendera, de uma aristocracia agarrada às velhas tradições que remontam ao feudalismo e de uma classe intelectual proveniente destas duas facções, durante o reinado de Nicolau II. Parte dessa mesma classe intelectual acaba por se converter em burocratas, difusores da propaganda no novo regime, algo que Pasternak e o seu alter-ego, Jivago, se recusam a fazer, sofrendo as consequências da sua opção ou, melhor dizendo, da insistência da observação da neutralidade ideológica e manutenção da independência e integridade do pensamento individual e das atitudes face ao Estado.

O Czar Nicolau, apesar de ser uma personagem meramente figurativa neste romance, mostra-se como um governante que, apesar de ligado às tradições, se mostra receptivo a novas formas de governação de inspiração francesa quer no que toca ao desenvolvimento da indústria – a Rússia encontra-se nesta altura em pleno arranque da Revolução industrial – quer na orientação ideológica na forma de governar retirada do Iluminismo. Apesar das constantes ameaças ao regime, provenientes dos movimentos revolucionários de inspiração marxista que actuavam na sombra e intensificados pela revolta popular após a execução do mago e monge Rasputine – o qual Nicolau II considerava como charlatão, cínico e falso milagreiro – o Czar decide abolir a pena de morte, reinstaurada após a Revolução pelos Sovietes.

Os conflitos anteriores à Revolução de Outubro são, segundo o ponto de vista de Pasternak e confirmados por várias fontes históricas da época, despoletados pelos abusos de poder por parte de alguns elementos das classes mais favorecidas traduzindo-se em actos despóticos e de vandalismo verificando-se, simultânea e frequentemente, a impunidade dos mesmos. Uma classe representada claramente pelo escorregadio e camaleónico Komarovski ou Komarov, advogado burguês no tempo do Império e burocrata no novo regime, que se serve da sua posição para exigir favores sexuais a Lara, a protagonista feminina.

Os tumultos, as revoltas, as cenas urbanas e campestres têm, como pano de fundo, a tecedura de um cenário recheado de detalhes e cambiantes cromáticos, sonoros e cinestésicos que permitem a visualização de todas as cenas como se estivéssemos a ver um filme, passado não só em Moscovo, mas também na Sibéria, nos Urais, na fronteira com a Ásia e a Mongólia.

A escassez a nível generalizado está patente, sobretudo, nas cidades onde a dificuldade em adquirir lenha ou outro combustível para o aquecimento – face ao desaparecimento dos fornecedores e pelos rigorosos esquemas de racionamento decretados pelo Governo – agudiza a proliferação da fome, bem como das doenças infecciosas, apesar do silêncio generalizado relativamente à origem destes factos.
As alterações dos hábitos de toda uma sociedade, a começar pelas classes outrora mais favorecidas, traduz-se na ocupação de espaço no palacete da família da esposa de Jivago, Tonia, em Moscovo obrigando a família a deslocar-se primeiro para Varikino, na Sibéria junto aos Urais e, depois a procurar exílio em Paris.

As consequências da proibição no que respeita à produção e fornecimento de qualquer bem primário ou manufacturado ficam evidentes pela constatação de Jivago ao verificar que Tonia não consegue produzir pão, para consumo próprio e venda do excedente, no palácio de Varikino; ao enfrentar as dificuldades titânicas em encomendar uma peça de vestuário para uma emergência a uma costureira – toda a iniciativa privada está proibida – uma vez que tal só é possível nas fábricas estatais tendo de preencher, para o facto, uma requisição. Mesmo, uma nova fechadura para a porta da entrada da casa de Lara em Iuriatine, que se encontra partida, dada a impossibilidade de encontrar um serralheiro a exercer funções, não se consegue arranjar.

Boris Pasternak nunca critica o regime directamente para evitar transformar um romance que pretende descrever uma realidade social em contexto de mudança, num manifesto de contra propaganda comunista, o que lhe retiraria crédito e verosimilhança. E é esta última característica que, por estar tão impregnada no romance, aumenta exponencialmente a força o impacto do texto e obriga o leitor a reflectir sem submetê-lo a todo um esquema de argumentação ideológica e abstracta, vazia de conteúdo.

O Amor como temática principal inserido em contexto histórico adverso
Outro tema-chave de O Doutor Jivago é o Amor, ou não fosse um poeta a personagem principal. O amor está presente em todas as suas manifestações, desde o amor filial – logo na primeira cena, com Iuri Jivago como protagonista no funeral da mãe – a colocar em evidência o carácter ultra sensível do protagonista cuja debilidade física, ainda embrionária, acabará por vitimá-lo pouco depois de atingir os quarenta anos. A expressão deste amor filial em Iuri é, depois, transferida para os pais de Tonia, que acabam por adoptá-lo até entrar, oficialmente, para a família após casar com a irmã adoptiva.
Jivago e Tonia vivem, durante muitos anos, como irmãos e desenvolvem um afecto mútuo e genuíno.
Tonia é dotada de um espírito pragmático e grande desembaraço, adquirido durante o período em que estuda Direito, em Paris. É através de do percurso de Tonia e, mais tarde de Lara, que nos apercebemos que, no início do século XX, as mulheres da alta média e alta burguesia eram incentivadas ou, pelo menos não eram impedidas de frequentarem o ensino superior e exercer profissões liberais, o que não acontecia na maior parte dos países da Europa Ocidental, Portugal inclusive.

O carácter de Tonia cria um forte contraste com a índole sonhadora e romântica de Jivago, que escolhe a profissão de médico, com o objectivo de ser útil à sociedade, por um lado – e, também, para garantir uma colocação que lhe permita sustentar uma família. Para além da Medicina, Jivago dedica-se apaixonadamente à escrita. Como poeta, filósofo e esteta desinteressado das questões materiais, abdica da herança paterna em favor dos irmãos, para não dispersar a energia em conflitos jurídicos que poderiam impedir, quer o desenvolvimento do lado criativo da personalidade quer a concentração necessária ao exercício da profissão e a dedicação aos estudos.
Com a chegada da adolescência nasce, entre Tonia e Jivago, um amor adolescente, largamente incentivado pela mãe de Tonia, sobretudo quando esta se encontra fatalmente doente.

Mas o aparecimento acidental de Lara na vida de Iuri, já depois de casado, despoleta autêntica uma revolução, um caos emocional no íntimo de Iuri Jivago, tanto quanto o comunismo subverte as estruturas da velha Rússia de raízes feudais. Lara representa para Jivago O Ideal de Eterno feminino, a própria Inspiração.
Na verdade, ambos têm muito em comum, desde a forma de ver o mundo até aos gostos estéticos. Mas a característica principal dos dois amantes é o altruísmo. Lara e Jivago são, ao mesmo tempo, semelhantes e complementares: à faceta sonhadora e idealista de Jivago, junta-se o pragmatismo de Lara para a resolução dos pequenos grandes problemas do quotidiano, como a prática de enfermagem e resolução de problemas logísticos em casa. Aluna brilhante, Lara é uma jovem que pretende continuar os estudos para poder leccionar – um impulso para trabalhar para a colectividade muito semelhante ao de Jivago. Tudo isto reúne um conjunto de factores que reforçam uma atracção espontânea, recíproca e imediata, entre o par romântico da obra.

Em relação ao marido de Lara, Pavel Antipov, Lara alimenta por ele um forte sentimento de amizade e solidariedade a par de admiração. No entanto, Lara “ama-o com a cabeça e não com o coração”…

Antipov é um indivíduo bem intencionado mas no qual se nota, logo a partir da descrição do seu aspecto exterior, um a excessivo apego à ordem, à arrumação, a par de um sentido de dever que o leva a colocar a obediência às normas num patamar que supera, inclusive, os afectos.
Por seu lado, Jivago acaba por simpatizar com o marido de Lara, intuindo também, o fim deste, como consequência do desenrolar dos acontecimentos que ditam a marcha da história. O excessivo apego às regras acaba por tornar Antipov inconveniente ao próprio regime.

Nos últimos oito anos da vida, Jivago encontra uma terceira mulher – Marina – de origem humilde, mas que não consegue fazê-lo esquecer Lara. Jivago perde até a vontade de lutar, de escrever, de combater a própria doença, desde muito cedo auto diagnosticada…

A síntese
A ligação entre os dois temas principais, paralelamente desenvolvidos, é o despoletar de mudanças radicais que, tanto as ambições políticas como o amor, desencadeiam no Homem. A desagregação das estruturas, causada pelo primeiro termo, traz ao de cima, em situações extremas, impulsos tão bestiais como a antropofagia. A única coisa que o Estado não consegue expropriar – porque ainda mais rebelde que as reviravoltas políticas dos grupos mais extremistas – é o amor. Principalmente o amor que não cabe dentro de convenções sociais, do sentido do dever…O amor por Lara é algo a que Jivago se agarra com “unhas e dentes” porque é a única coisa que lhe resta. Quando lho retiram, por intermédio de Komarov, deixa de se importar seja com o que for. O astuto advogado revela uma conduta que faz lembrar Scarpia – o vilão da ópera de Puccini ou o Shakespeariano Iago.

O Simbolismo na escrita de Boris Pasternak

A beleza, o romantismo e a melancolia, profundamente enraizados na tradição cultural do imaginário russo estão, em O Doutor Jivago, presentes sobretudo nas lendas e canções tradicionais em vários momentos do romance, onde se destaca a ladainha entoada pela velha curandeira, “rival” de Jivago no tratamento das feridas de guerra dos soldados da unidade onde este se encontra destacado, no Exército Vermelho, pouco antes de desertar.

A identificação da paisagem visual com o estado de alma de Jivago, frequente na obra, causa um forte impacto visual, ao desempenhar o papel de canalizadora de emoções. O gelo e a infinita gradação denuances de branco e cinza na paisagem siberiana traduzem, normalmente, o desespero; o carácter eterno e a solidez de árvores como as bétulas, os abetos e os pinheiros, essenciais à sobrevivência por fornecerem a madeira indispensável ao aquecimento nas habitações, são um presença que transmite conforto.
Os pássaros como os corvos e as gralhas, são sinalizadores de mau presságio, com o seu crocitar escarninho. Também o narrador, quando quer mostrar a linha de pensamento de Jivago, identifica-o com o rouxinol, ave de aspecto insignificante, mas cujo canto tem o poder de deslumbrar o mundo – tal como a poesia de Jivago. O uivar dos lobos em Varikyno, que perturba o par romântico da obra, anuncia a aproximação do Inimigo – Komarov e o Exército Vermelho – no encalço de Jivago após a deserção. Os lobos são, também, presságio de morte violenta – a de Antipov.
A Lua, em Pasternak, está, também, carregada de simbolismo. O luar, reflectido na neve em Varikyno, transforma a noite numa claridade feérica, mágica e fantasmal, que “ilumina sem aquecer” ao erguer-se no horizonte da noite siberiana. Trata-se de um presságio de separação para os amantes…
Em vários momentos, ao longo do romance, a presença da Lua, sobretudo quando aureolada de vermelho, está fortemente conotada com acontecimentos trágicos, como na página 132, a simbolizar um conflito na rua entre duas facções opostas: “Por detrás do ninho de corvos, surgiu a lua, uma lua cheia, vermelha e escura, alta e monstruosa (…). E depois, no capítulo VII, antes de um banho de sangue: (…) “ia alta a Lua, e o mundo mergulhava nessa luz espessa como num charco de alvaiade (…) vielas mortas vinham desembocar na praça (…) essa noite banhada pela Lua, maravilhava como a misericórdia divina ou como o dom dos visionários”. A Lua, apesar de fascinante, parece sempre estar associada a alguma divindade misteriosa e terrível como a deusa Hécate nos antigos Gregos…

Outro ícone carregado de simbolismo é a “Sorveira gelada”, árvore de folha perene, coberta de neve e bagas vermelhas de que os pássaros se alimentam como os necrófagos – humanos e animais – se alimentam dos cadáveres sangrentos dos soldados mortos…A arvore está localizada junto à vala comum onde é executado um grupo de desertores…
É junto dessa sorveira que Jivago decide empreender a fuga em direcção à aldeia siberiana de Varikyno e a empreender uma penosa odisseia através de uma das zonas mais geladas do globo, fingindo recolher algumas bagas para, tal como os pássaros enganar a fome…
Mais tarde, é à visão, bela e fatal, de uma árvore semelhante que Jivago associa a morte de Antipov, o qual se suicida…A Jivago, as gotas de sangue sob a neve, junto ao barracão do palácio em Varikyno, lembram-lhe as bagas da sorveira brava e o sangue dos desertores executados pelos burocratas do regime.

Para Iuri, a vida termina com a partida de Lara, contra a vontade de ambos, forçada pelas circunstâncias. Para além de se ver privado da pessoa que ama, a mutilação da livre expressão do pensamento, da criatividade na escrita e na arte como “expressão de verdade individual”, obriga-o a escolher a renúncia e a sobrevivência, o que lhe tira o ânimo até para o exercício da Medicina.
Jivago não deixa de notar que, até os seus melhores amigos, submetidos e enquadrados de alguma forma no regime, são falhos no que toca à originalidade, limitando-se a repetir fórmulas decoradas baseadas em conceitos abstractos. Jivago sente que os parceiros de outrora se “venderam”.
Nem a intervenção, do misterioso irmão Evgraf, membro da polícia secreta, sempre presente nos momentos cruciais, consegue evitar que Iuri se afunde…Este consegue apenas reunir os escritos de Iuri, incluindo os Poemas a Lara e publicá-los já após a sua morte.
Afinal, na Nova Ordem, os problemas do anterior regime persistem. No fundo, o essencial não muda nunca.
Por mais revoluções que se façam, haverá sempre presas e predadores. "

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Ashanti (Ébano)


Um livro de 1978, onde o popular romancista espanhol Alberto Vasquez-Figueroa situa em África a acção deste seu romance, cujos principais personagens são um jovem universitário europeu, David, casado com uma negra, Nádia, desportista e idealista, que procura atrair a atenção do mundo ocidental para a miséria reinante no seu país africano.

O casal vai passar a lua-de-mel a África , mas a mulher desaparece quando se banhava numa lagoa; as suspeitas iniciais alvitradas depressa são substituídas por uma certeza: ela fora vítima de um rapto cometido por caçadores de escravos!

A partir daqui, e em relatos paralelos, David inicia a odisseia da procura da esposa, o que o força a atravessar o continente africano e a enfrentar situações extremamente dramáticas, onde o perigo espreita a cada passo. Por sua vez. Nádia percorre o calvário que a conduzirá à Arábia para ser vendida ao xeique que pague melhor.
Descrito com o estilo peculiar do autor – um estilo tremendamente realista e cheio de ritmo cinematográfico – depressa este romance  atraiu as atenções da sétima arte que o transformou num espectacular filme de aventuras interpretado por grandes vedetas como Michael Caine, Peter Ustinov, Rex Harrison, Omar Sahrif, Kabir Bedi e a bela Beverly Johnson.




Alberto Vásquez-Figueroa nasceu em Santa Cruz de Tenerife, em 1936. Até aos dezasseis anos viveu no exílio com a família em Marrocos e no Sahara.Licenciou-se em jornalismo e em 1962 iniciou uma longa actividade como enviado especial da revista Destino, do jornal La Vanguardia e mais tarde da TVE. Durante quinze anos visitou quase uma centena de países e foi testemunha de numerosos acontecimentos-chave do nosso tempo, entre os quais as guerras e revoluções da Guiné, Chade, Congo, República Dominicana, Bolívia, Guatemala... Depois de se dedicar à realização cinematográfica, centrou-se por inteiro na literatura. Com mais de 40 livros publicados, nove dos quais adaptados ao cinema, Alberto Vázquez-Figueroa é um dos autores espanhóis mais lidos em todo o mundo e conta com mais de dezasseis milhões de livros vendidos.O Rei Amado é já o sexto livro do autor publicado na Difel, depois de Ícaro, O Inca, O Senhor das Trevas, Um Mundo Melhor e Tuaregue.




segunda-feira, 2 de maio de 2011

O Codex 632

E como prenda do Dia da mãe recebi:




O enredo do mais recente romance de José Rodrigues dos Santos, “O Codex 632”, desenvolve-se em volta de uma mensagem enigmática encontrada entre os papéis que um velho historiador deixara no Rio de Janeiro antes de morrer: “MOLOC NINUNDIA OMASTOOS”.

A acção desenrola-se quando Tomás Noronha, professor de História da Universidade Nova de Lisboa e perito em criptanálise e línguas antigas, é incumbido de decifrar esta estranha cifra. Mas o mistério que ela encerrava revelou estar para além da sua imaginação, lançando-o inesperadamente na pista do mais bem guardado segredo dos Descobrimentos: a verdadeira identidade e missão de Cristóvão Colombo.
Ao longo dos séculos o debate sobre a identidade de Colombo tem dividido opiniões e criado, inclusivamente, entre historiadores e estudiosos, fortes divergências de opinião. Existem correntes distintas: há quem reclame a identidade genovesa, ao mesmo tempo que os espanhóis avançam com a teoria de que Cristóvão era catalão e tantos outros acreditam que este era português.
Numa viagem de 550 páginas o leitor confronta-se com factos curiosos como, por exemplo, a recolha de indícios de que Cristóvão Colombo era um judeu português.
No livro, ficam ainda pistas interessantes como o facto de Cristóvão Colombo ter casado com D. Filipa Moniz Perestrelo, uma jovem da nobreza portuguesa e descendente de Egas Moniz.
Além da História em si, uma das peculiaridades deste romance são as diversas estórias paralelas como, por exemplo, o romance de Tomás com Lena, uma aluna sueca e inteligente, ou a ruptura de Tomás com a sua mulher Constança. Ou ainda, a sua filha Margarida, com 9 anos e possuidora de “Trissomia 21”.
De referir, porém, que este é um romance histórico com recurso a fontes originais mas é ficcionado.


O autor José Rodrigues dos Santos nasceu em 1964 em Moçambique. É sobretudo conhecido pelo seu trabalho como jornalista, carreira que abraçou em 1981, na Rádio Macau. Trabalhou na BBC, em Londres, de 1987 a 1990, e seguiu para a RTP, onde começou a apresentar o 24 Horas. Em 1991 passou para a apresentação do Telejornal e tornou-se colaborador permanente da CNN entre 1993 e 2002.
Doutorado em Ciências da Comunicação, é professor da Universidade Nova de Lisboa e jornalista da RTP, tendo ocupado por duas vezes o cargo de Director de Informação da televisão pública. É um dos mais premiados jornalistas portugueses, galardoado com dois prémios do Clube Português de Imprensa e três da CNN, entre outros. Já publicou quatro ensaios e este é o seu terceiro romance.
Baseado em documentos históricos genuínos, este novo romance de José Rodrigues dos Santos, transporta-nos numa surpreendente viagem pelo tempo, uma aventura repleta de enigmas e mitos, segredos encobertos e pistas misteriosas, aparências enganadoras e factos silenciados, um autêntico jogo de espelhos onde a ilusão disfarça o real para dissimular a verdade. Uma obra admirável que não se consegue parar de ler!

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Cem anos de solidão


Um dos meus presentes de aniversário. Ainda não li mas já está na lista de espera.


Cem Anos de Solidão (Cien Años de Soledad no título original) é uma obra do escritor colombiano Gabriel García Márquez, Prémio Nobel da Literatura em 1982, e é actualmente considerada uma das obras mais importantes da literatura Latino-Americana. Esta obra tem a peculiaridade de ser umas das mais lidas e traduzidas de todo o mundo. Durante o IV Congresso Internacional da Língua Espanhola, realizado em Cartagena, na Colômbia, em Março de 2007, Cem anos de solidão foi considerada a segunda obra mais importante de toda a literatura hispânica, ficando apenas atrás de Dom Quixote de la Mancha. Utilizando o estilo conhecido como realismo fantástico, Cem Anos de Solidão cativou milhões de leitores e ainda atrai milhares de fãs à literatura constante de Gabriel García Márquez. A primeira edição da obra foi publicada em Buenos Aires, Argentina, em Maio de 1967, pela editora Editorial Sudamericana, com uma tiragem inicial de 8.000 exemplares. Nos dias de hoje já foram vendidos cerca de 30 milhões de exemplares ao longo dos 35 idiomas em que foram traduzidos.

Muitos falam da necessidade de se ler Cem anos de solidão com um bloco de apontamentos ao lado, com o intuito de se traçar a árvore genealógica dos 500 mil Aurelianos, José Arcadios e variações destes mesmos nomes para compreender a teia de personagens que vai sendo criada à medida em que os anos avançam. No entanto, a real essência está em ver a história além das suas personagens e entender o círculo que se fecha ante às previsões de um fim anunciado. Há diversos elementos que se entrelaçam formando um conjunto bastante interessante, pois, como disse Pablo Neruda, "este é o melhor livro escrito em castelhano desde Quixote".

P.S. Li e ao contrário de centenas ou milhares de pessoas DETESTEI, não definitivamente escritores como Gabriel Garcia Marques, Isabel Allende ou Frida Kahlo não são do meu agrado. Foi o tempo mais mal empregue que passei a ler um livro e já houve vários que não gostei, mas este superou-os a todos...não gosto de escrita cheia de fantasmas, reencarnações e outros que tais....